quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O atro e os astros

por: Wile Ortros













Outra vez me aparece
para encher minha noite de alegria
tem tanto a dizer e nada a acrecentar
a inveja revela a alma,
que tentou mostrar santa e pura

de pronto um susto lhe arranco
não pedi que lançasse aos meus pés
vermelhos tapetes demagogos
elogios tépidos de pelego
fundamentos vesgos de um tolo

eu não temo a crueldade do mundo
me fez rir seu desespero espirituoso
não entende liberdade sonora
nem percebe a prisão em que está
pra variar,
ainda pensa viver num castelo

me olhou tão perto em detalhes
que um medo surgiu
rimas pobres também são verdades
pela voz de quem tem a dizer
não sou eu quem vai fazer de conta
que essa noite jamais existiu

não me importa a repressão democrática
me dou bem com o meu travesseiro
se sou o vento o resto é fumaça
da fuligem de quando fui fogo
pesam menos que um cisco no olho

vou dizer quem eu sou,
sabe o negro vazio do espaço?
as estrelas jamais me ofuscam
por bilhões que elas sejam
sou o plano em constante negrejo
sou o atro!

***por Wile Ortros

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Youcci

por: wile Ortros












Os vendavais me trazem uma vontade imensa de viver
mas quando passa a ventania volto ao meu abismo
tempos atrás,
a infância me enganava impunemente
sobre as vantagens de sonhar

Sonhar hoje é complicado,
implica aos que me invejam,
aumenta carga de jugos,
e pra quem não sabe ainda
sonhar custa  caro.

O que foi que fizemos de errado?
para tornar sonhos pesadelos
e comemorar respostas negativas
o próximo passo é o próximo show
sou mesmo insuportável
sou atro, não astro
o topo é o acaso mas por acaso
não há nada novo de novo.

no paraíso o álcool
no inferno o fogo
só me contento juntando todos
quando criança,
estourava bombinhas nas mãos
sem medo de perder os dedos
acendia o pavio e meus amigos corriam
queriam me ver de uma distância segura
mas a minha proximidade, a meu ver era segura
tão segura que as bombinhas perderam a graça

e por mais que faça
a segurança dos meus dias
vem no fim de ventanias,
de vendavais seguros,
que por mais escuros,
não se tornam pesadelos
pois infelizmente
aprendi até onde posso
por mais que pareça irresponsável
me aproximar

***por:Wile Ortros

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Carta para Úrano

por: Wile Ortros




















Uma bela mulher que por mim chamava
não era viva nem era alma
caminhava em brumas violetas esverdeadas
aos seus pés flores murchavam
e me encantava sua doce voz.
Já sobre encanto,
nem pude ver a diante tamanho abismo,

caí,
se não morri,
foi pura sorte!

Estava quente o fundo do abismo
um calor confortável me trouxe um sono irresistível
arrastei pra mim duas pedras e as usei de travesseiro
era 15 de Fevereiro em 85,
quando acordei dentro de um sonho
com uma preguiça que carrego até hoje,
um mundo claro cheio de dúvidas
e eu adorava ouvir o vento rasgando as árvores
levantando poeiras vermelhas e o cheiro de fumaça
do diesel que velhos caminhões carburavam.

Por perder a esperança de acordar depressa desse sonho
Aprendi a língua dos seres que habitam esse novo mundo
mas aprender falar não quer dizer aprender usar palavras
por onde andei tentei de melhor maneira usa-las

Muros foram derrubados e um irmão nasceu
motivos e previsões não faltam pra este mundo acabar
mas antes que ele acabe, o tempo humano se esvai
existe aqui corrupção evidente e aprendemos desde cedo
todos anseiam pela oportunidade de também serem corruptos
Embora isso tudo afete a todos
todos se acomodam em seu estado único.

Seres amáveis, cativados, se aproximam e me conhecem
cuidam, castram, amam, limitam, apaixonam-se
me querem pelo que sou
mas querem mudar
e depois que mudam não querem mais
então parei de mudar, mas não parei de querer.

Solidão e silêncio alimentam minha forma
gosto de muitos,
preciso de todos.
me importo com poucos.
mas é mais fácil cuidar de flores
muitos me gostam,
todos precisam,
mas poucos se importam
se morreram as flores...

Cinquenta objetos brilhantes rasgaram os céus a noite passada
todos eles já sabem o que desejo
o simplíssismo do que me pertence
o que sei parece muito, por saber muito, sobre o que pouco sei,
mas o percurso se faz complexo.

uma sequência de acontecimentos inexplicáveis que expliquei,
me fez perceber que estar ocupado
avisado ou não,
te torna culpado por ser descuidado
e o amor vira ódio e vira amor de novo

existe uma lógica sentimentalista que é ignorada,
arranquei fora minha cabeça e meu coração
coloquei-os em frias bandejas idênticas,
uma em cada lado de uma balança,
observei por onze dias,
cada dia um pesava mais
mas nunca se equilibravam

reparei que o coração era mais lento
quando pesava, pesava muito
e a cabeça pensava que seu pouco peso
era leveza de consciência impune
e conscientemente deixava o coração pesar,
sangrei sem pena o coração com lamina
só então pesou minha consciência
para não matar o coração inteiro.

talvez de certo esteja errado, mas afinal fiquei exausto
sinto saudades das brumas venenosas que por outrora me encantavam
e de ver os pés de minha amada pisando flores semimortas.

leva-me daqui...
leva-me de volta!

***por: Wile Ortros

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

As correntes e as cinzas




















Ouço sons de correntes
arrastadas sobre o telhado cinza de minha casa,
nesta casa minha fortuna empoeirada
é espalhada pelos cantos que esqueço (ou me nego) arrumar
cobertos por lençóis aracnídeos abandonados em meia costura.

Tentei em vão com um isqueiro aquecer as pontas de meus dedos
mas o gás não fora suficiente
meu cachorro impaciente não dorme, sente fome
semi-morto o coração não muda o pulso, venta frio em minhas veias.
Exclamo: "Vou atear fogo em tudo!"

Fumaças negrejam a noite e a casa em chamas,
eu também em chamas irresoluto,
ainda sinto geladas as pontas de meus dedos
desisto, e me nego varrer as cinzas!

Volto a minha poltrona chamuscada,
apago em único sopro, as chamas sobre as letras do teclado,
restando acesa apenas a tecla "enter" do canto inferior direito
aproveito para acender outro cigarro.

As correntes continuam estribilhando seus refrões em meu telhado.
Reclamo: "Mas que diabo! Posso eu ter o silêncio?"

Subo ao telhado e vejo duas almas se arrastando
presas as malditas correntes ruidosas
peço a uma delas que segure meu cigarro
quebro três correntes com os dentes e uma alma vai embora
a outra fica ali fumando
disse a ela : "te dou o cigarro mas limpe as cinzas"
deixo o cigarro e desço.

O cachorro magro agora dorme
das correntes restaram poucos elos que caíram pelas calhas do telhado
vou me deitar e aproveitar a cama ainda quente por conta do incêndio
três cobertores e dois travesseiros defumados
apago a luz, tudo confortável e o sono vem

derrepente e sem aviso abrem-se janelas e portas
enquanto um vento frio percorre toda casa
levanto, acendo a luz e vejo a casa toda limpa
sem teias, sem poeira, nem cinzas,
só um toco de cigarro num cinzeiro
apago a luz e volto a cama, com um pensamento que não cala...

"Maldita alma caridosa, podia ter lhe pedido que me aquecesse os dedos

  ***por Wile Ortros

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Acorde














meu violão vermelho não compõe
os que compõe não são meus
minhas cordas são pesadas
pra poder soar bem alto
o poema que escreveu

vomitando tuas verdades
exigindo mais de mim
se deixar soar meu grito
a resposta vai fluir

e esse tempo que calei
são pausas nas melodias
pra marcar bem os compassos
deste nosso amargo dia

por Wile Ortros

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Alma criminosa




















Apesar de ser novo essa carne é surrada,
alma velha cansada por experiência tende,
querer compartilhar e buscar novidades
e o que vai ser novo em quingentésima vida?

Fecha teus olhos, ouça minha voz apenas!
Me vingarei da noite solitária e fria,
praticando crimes antes que me venha o dia.
Estarei tão próximo e tão distante quanto desejar

Reencontrar-se em palavras sussurradas.
Velada a solidão libertadora incide.
Não há como viver pra sempre tépido!
Foi meu conhaque quem me disse.

Que me importa a noite de luar?
Dos cigarros me restam bitucas
Quis saber sobre a morte em grande estilo,
quis ouvir teus suspiros

E o vento soprou sobre janelas diminutas.
Maldição, não me deixaste entradas!



***

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Between us














existe um amplo território
dividindo a existência de uma novidade incontrolável
um comodismo incômodo me cerca
Sem palavras ou gestos
apenas olhares congelados

Quero sobrepujar a imundice dos meus fracassos
ter a oportunidade de realizar
Natural seria fazer tudo que sei
e o que gosto de saber

as oportunidades se escondem nos detalhes
como posso conflagrar sem destruir?
como posso fluir sem me espalhar?

é preciso que solte as minhas mãos
sei que quer me levantar
mas só vou seguir em frente
se sozinho caminhar

preciso romper todo esse território
e buscar o que há de novo
tenho três jóias num bolso
e um gato preto no outro

bagagem pra ir embora!

***

domingo, 3 de abril de 2011

Sem acordar

















eu que sou tão bom em sonhar
não posso dormir pra sempre
se fosse possível não acordar
e permanecer o sonho

eu poderia ir mais longe
entrar na tua pele
fluir pelos teus ossos

olha, o sol da tarde engana
faz parar e admirar toda maravilha
de um dia seu que foi embora

Sem lirismo a rotina faz cansar
Mesmo eu bom sonhador
Uma hora é preciso acordar

Então o sol do manhã vem
ironicamente menos admirável que o da tarde

é um dia seu que chega
uma porta que se abre
na rotina sem lirismo
sem o fogo nem o vento

é a terra quem comanda
se a agua não vier pra destruir
Meus pedaços se espalham
para em teus ossos fluir

Tua pele me recebe
e meus olhos bem abertos
sonham sem estar dormindo
então eu posso ir mais longe
mesmo estando aqui tão perto

 ***

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Digressão












Perceba!
tudo esta em tuas mãos
só você pode escolher
seguir em frente ou desistir

mas cada escolha é um caminho
pois seu tempo vai passar
carregado de frustrações e medo
ou focado como fogo

sê um touro pise forte
nada vai te derrubar
não seja! Erga!
Um alicerce forte
vá em frente ganhe o mundo

Siga o norte, não o pólo
sua seta você faz
Honra teus brancos cabelos
já em paz, podes morrer

Sem divagações relapsas
Menos digressões inúteis
viva a decisão que escolhe
vá depressa sem temer


 ***

sábado, 12 de março de 2011

Nostalgia nova








Aproveitar caminhos insurgentes
Confirmar a própria verdade
sem ar, sem tempo, sem querer, sem poder
Desperdice um pouco mais de tempo
para descobrir que não tem fim

Ao despreocupar-se não morre.
É avesso, sente a vida!
Não perde a ordem.
Não gasta a sorte.
Lembrando-se do que não sabia.

Permita nova vida!
Mas pegue tudo que puder levar nas tuas mãos.

Um adeus num sussurro
Marca mais que um sorriso.
Sem olhar pra trás,
Sem voltar à porta,
Sem causar-se ou causar mágoas

Adiante está o antigo início
Reencontre-o melhor do que estava
Distantes saudades se foram
De perto saudades retornam

Tudo continua distante
Mas não se pode tocar o horizonte,
pois sempre haverá algo adiante
se tudo estiver certo e insurgente

está como deveria ser
e então...
Vamos embora?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sal e Areia













Grânulos por gránulos vou me esparramar
fugir da rotina monástica dos uniformes
dos exageros de consumo e de usura,
quero isso fora de minha mochila!

Vou viver a sorte e conhecer a vida
Arrancar de mim os limites humanos
Descansar intrigado com verdade empírica
Salário é sal sob meus pés

Coletando histórias minimalistas
preservando cousas que são esquecidas
Vou sentir na pele intempéries extremas
e cada por de sol terá beleza lírica

Ao reparar que somos ínfimos grânulos
Sou o que foi lançado longe ao vento
Circulei amplos delineados movimentos
E nunca mais ousei pousar como poeira!


***

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Sheol da verdade












Fui assassinado pela verdade
Homicida foi dono da mentira
Escarnecido, veio à tona
em rubra escarlate cólera

Resta a ele, vida e culpa
Resta-me condolências à fria morte
"Era bom e verdadeiro!" irão dizer
Por mais que seja não pôde salvar-me

Que fazer então?
Viver amarga solidão e dor da perda?
Morrer às duras penas da verdade?

Não se pode prever o resultado
No final todos acabam machucados
Mas a "verdade", acaba de matar-me

Pensei em salvar-me matando a verdade
Enterra-la em cova com profundidade
Lacra-la em um sarcófago
Sela-lo com maldições

Mas não há no mundo espaço
pra enterrar toda verdade
Então volto ao meu sepulcro

Mais fácil sumir meu corpo
Que enterrar minha verdade!

***